Azar o meu.

Um ano dedicado ao projeto NYC Marathon:  meses acordando de madrugada, meses sem ver minhas amigas, um casamento que foi pro saco e muita determinação por um propósito.

Tudo pra nada?

Not at all.

Furacão vai, furacão vem, cancela o vôo aqui, remarca ali, faz que faz e chegamos em NY no vôo 8082, o primeiro a sair do Brasil para a Big Apple depois do furacão.

Mais ou menos uns 50 lugares vazios, o que  permitiu a mim, a Andrea Longhi (aka ASICS), a Taty Mutaf (aka ASICS) e a todos da Asics Crew a viajar “de patrões”  tranquilos e com a certeza de que depois de embarcar nada mais poderia dar errado.

(Deus riu…)

Chegamos na cidade e para todos os lados tinha alguma coisa da maratona, nos ônibus, nos pontos de ônibus, no metrô… logo de cara entendi o tamanho dessa prova e o que ela significa para NY.

Foi minha primeira vez em NY e nos Estados Unidos. Claro que fiquei meio chocada quando cheguei, logo bateu aquela vontade de nunca mais voltar. Tudo é lindo, tudo funciona, as pessoas são lindas, estilosas e educadas….

Times Square é algo de tirar o fôlego. No entanto tinha alguma coisa errada, era fácil ver um rastro ou outro do Sandy, isso na parte do meio pra cima da ilha, parte essa que nem foi muito afetada. O Central Park estava fechado, o metrô tb não funcionava e via-se muita coisa fora do lugar, inclusive o guindaste que era na rua de trás do hotel.

Não era difícil sentir algo estranho em relação à prova, ao furação e às pessoas. Tinha algo errado, a prova não fazia sentido, a alegria de quem ia correr vinha acompanhada de culpa pela cidade estar numa péssima situação e a gente pensando em corrida.

Foi uma mixed emotions pesada.

Cheguei no hotel na Sexta de noite e recebi a notícia de que a prova havia sido cancelada. Oi?

Foi meio Maysa meu mundo caiu. O ano passou numa curta-metragem pela minha cabeça, os planos vieram todos à tona…e as ilusões? Ah, essas foram todas perdidas.

Fui pro Harlem dormir no apê que minha família estava pois precisava mto deles naquele momento. Sábado acordei me sentindo meio orfã, meio homeless e meio vazia.

Dia 03/11 era um dia especial, criamos coragem e decidimos ir pra Downtown tentar ver o mar.

Essas foram as primeiras impressões ao chegarmos em Wall St, o que me fez imaginar se num lugar rico as coisas estavam assim, como um lugar menos favorecido poderia estar…

Ali a realidade do cancelamento começou a fazer sentido pra mim.

Num evento onde a grande importância era a energia das pessoas que viviam ali, fazia sentido ele acontecer mesmo com o povo chateado, sem luz, sem casa e com a cidade destruída?

Sem demagogias, mas seria o desejo de 40 mil pessoas de correr mais importante que isso?

Foi aí que entendi tudo e comecei a curtir NY pra valer!

De repente estávamos na baixo Broadway , a chuva começou a virar gelo e quando nos demos conta estava nevando!

Não tenho vergonha em dizer que nunca vi neve e menos ainda em dizer que chorei, entendi que Deus me mandou esse presente como contrapartida do cancelamento da prova, até pq não neva em NY nessa época do ano.

Estava com pessoas queridas, num lugar lindo e vendo a neve, não existia motivo para ficar triste. Tive uns instantes de desespero pela maratona mas em NY não tem como não ser feliz, é sério!

Fiquei 5 dias no Sheraton perto da Times Square, depois fui pro Spanish Harlem, um lugar incrível que até me arrependi de não ter trocado o hotel por lá e as últimas duas noites passei em Greenwich, Connecticut com minha amiga Lívia e sua família, que me receberam como rainha e me fizeram morrer de vontade de viver lá!

Recebi muitos emails e muitas mensagens de pessoas preocupadas. Algumas do bem, outras nem tanto, de uma maneira geral quero agradecer às que se preocuparam de verdade.

Voltei de NY feliz e tatuada. Fiquei tão emocionada em ver a neve que decidimos, eu e a Lívia, fazer uma tatuagem.

Os planos foram mudados completamente mas a viagem foi a melhor da vida.

O pessoal da Asics foi incrível, a turma aqui do Iguatemi foi maravilhosa tb, me permitiram viajar sem maiores preocupações e culpas, tudo foi quase perfeito. Queria muito ter corrido a prova mas não sei se trocaria esse desfecho por outro….

Tive as melhores companhia de viagem ever, meus tios e meu ex-marido.

But now I´m back!

Há quem diga que sou pé-frio, o que aliás quase me fez tatuar os flocos de neve no pé, mas vivi uma experiência que nem de longe configura má sorte, configura que a vida segue o curso que quer e não o que nós queremos que ela siga!

E antes que perguntem, a ” Não-maratona”  ou ” Run anyway” merece e terá um post à parte logo mais.

bjs!

Desabafo.

Gente, desculpa se fui grossa com alguém. É que além de ser difícil filtar o bem-me-quer e mal-me-quer estou tão de sobreaviso quanto o resto do mundo em relação à NY, portanto não sei responder à pergunta “E a viagem?”.

Lógico que quero ir, quero correr, quero passar uns dias com pessoas que amo, além de tudo treinei o ano todo e criei expectativas….mas sinceramente?

NY tá destruída, pessoas estão sem casa, outras morreram. Posso ser egoísta de vez em quando como todo mundo, mas nesse momento não tô pensando que essa viagem é a coisa mais importante da vida.

Se ela acontecer vou ficar muito muito feliz mas se ela não rolar OK, não vou passar um mês chorando.

Foi um prêmio, é nosso e estará guardado com a ASICS BRASIL , seja NY ano que vem ou Paris. Não vou deixar de treinar nem nada vai mudar na vida.

Espero que a cidade se recupere logo, não pela viagem ou pela prova, mas por todo mundo que vive lá!

Quero correr numa NY linda e  não numa NY devastada.